“O olhar analítico do pesquisador Mário Fellipe vai buscar os trânsitos
que marcam no circuito de diversão da cidade de Fortaleza, outro circuito de
diversão de homens gays, no qual vai eleger um desses espaços, caracterizado
por ser localizado no centro de uma região de restaurantes e bares
sofisticados, que se tornou referência de homossexuais, gays e lésbicas,
considerados mais “discretos” e chiques, articulando vários autores para dar
conta de um processo nada convencional, que perfaz espacialidade em
territórios, sujeitos em práticas identitárias, corpos móveis, que rompem
impedimentos ao criarem espaços próprios de vivências de prazer e de diversão,
mas que também constroem regulamentos de
conduta, práticas e técnicas, lugares, posições e aparatos que constituem
regimes de subjetivação e de gerência de práticas.”
Do prefácio de Maria Dolores de Brito Mota
MEETIDOS – o Livro
Livro terá lançamento dia 31 de Julho de 2015, às 18h, no Auditório do Comitê de Imprensa da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará.
Livro terá lançamento dia 31 de Julho de 2015, às 18h, no Auditório do Comitê de Imprensa da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará.
Leia e conheço um pouco do autor e obra: O
monta/desmonta de corpos, performances e identidades gays na boate MEET – MUSIC
& LOUNGE
ORELHA
do livro
Ensaiando
uma abordagem etnográfica dos modos de interação de homens gays no espaço de
uma boate em Fortaleza, voltada a estratos sociais mais abastados e situada
numa área nobre da cidade, o presente trabalho desvela sistemas de
classificação e distinção operados pelos sujeitos naquele território. Tomando
como aposta analítica a profunda relação entre espaço(s) e subjetividade(s), o
autor pretende cartografar identidades sociais e sexuais, performances de
gênero e estratégias de interação que são mobilizadas a partir de uma ideia de
pertença ao espaço da boate. Destacam-se
entre essas estratégias, a fabricação de corpos “sarados”, a montagem de
vestuário que expresse símbolos de status, modelos de masculinidade negociados
na curtição da festa e na paquera e a inserção em redes de relacionamentos que
agreguem prestígio intragrupal. Ao propor um olhar sobre práticas de
lazer/prazer do “circuito gls” na metrópole cearense, o livro se configura como
uma importante contribuição para a compreensão de nossa paisagem urbana e de
nossa história presente.
Cristian
S. Paiva.
Coordenador
do Núcleo de Pesquisas
sobre Sexualidade, Gênero
e Subjetividade (NUSS) e Professor do Programa de Pós-Graduação
em Sociologia da UFC.
O AUTOR
Mário
Fellipe Fernandes Vieira Vasconcelos é pós-graduando pelo Mestrado em
Sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) com bolsa CNPQ. Graduou-se em
Design de Moda pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e em História pela
Universidade Estadual do Ceará (UECE). Desenvolve estudos na área de Corpo,
Gênero e Identidade. Tem
experiência na área de Sociologia da Moda, História Cultural e Design.
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“[...] há impossibilidade de ser além do que se é - no entanto eu me ultrapasso mesmo sem o delírio, sou mais do que eu, quase normalmente – tenho um corpo e tudo que eu fizer é continuação de meu começo... a única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais...” (Clarice Lispector)
Este
livro nos fala de quanto somos incertos, inacabados e desejantes. Mário Fellipe, percorre cenários noturnos da
cidade de Fortaleza, onde sujeitos se arriscam em caminhos para e por lugares
em que encontram olhares, performances, imagens, sensações, sons, sabores,
movimentos, afetos vivenciando processos de subjetivação que, ao tempo em que
acionam identificações e desenham identidades, os colocam os em uma permanente
instabilidade criativa, de produção de corpos e de discursos que possibilitam à
experiência de um si e a diversidade de devir.
Assim, o autor vai buscar os
trânsitos que marcam no circuito de diversão da cidade de Fortaleza, outro circuito de diversão de homens gays, no qual vai eleger um desses
espaços, caracterizado por ser localizado no centro de uma região de
restaurantes e bares sofisticados, que se tornou referência de homossexuais,
gays e lésbicas, considerados mais
“discretos” e chiques. Uma boate, um
território que não se restringe apenas ao espaço construído, aquele que fica no
interior das paredes, mas que começa na fila que se forma para entrar e segue
por outros lugares em festas itinerantes, que formam as primeiras vivências
desse grupo que acabou por construir um espaço fixo, um ponto de convergência e
de experimentações.
Articulando
vários autores para dar conta de um processo nada convencional, que perfaz
espacialidade em territórios, sujeitos em práticas identitárias, corpos móveis,
que rompem impedimentos ao criarem
espaços próprios de vivências de prazer e de diversão, mas que também constroem regulamentos de conduta, práticas e técnicas,
lugares, posições e aparatos que constituem regimes de subjetivação e de
gerência de práticas.
Entre
a história, a sociologia e a moda, o autor deste estudo realizou uma incursão
etnográfica na boate estudada, como pesquisador e como frequentador, conversou,
ouviu, viu, entrevistou. Com sua
investigação mostrou as paisagens de um espaço singular, que se iniciou em
festas que se deslocavam pela cidade, realizando-se em lugares diversos, em
errâncias que levavam a encontros de quem buscava diferenciações e identificações.
Dentro
da boate, diferentes ambientes formam microterritótios e fazem emergir uma “natureza reguladora que se
encontra diluída no interior da boate, objetivada em espaços da boate bem como
nos espelhos que personificam ali o olho panóptico”, como afirma Mário Fellipe. Mas, os frequentadores não se resumem apenas
aos “meetidos” que encarnam a identidade da boate, outros gays não tão discretos e não tão “meetidos” ocupam
esse território estabelecendo diversidade e estranhamento que “dá passagem a outras performances”,
sussurra o autor.
O
corpo é a encarnação dos sujeitos e este se faz de trejeitos e de vestimentas,
cobrindo-se de signos que vão compor a aparência dos “meetidos”, elegantemente
bem comportados e referenciados num modelo dominante de masculinidade. O olhar
então se torna um mecanismo regulador, disciplinador, voyeurismo de si e dos
outros, que os espelhos espalhados em várias paredes projetam seus reflexos
cruzados. Corpo e moda estão presentes na performatividade de uma identidade,
não apenas como modeladores de imagem, mas como agenciadores de diversidades
identitárias, pois não há fixidez na produção de si.
Com
essas questões, o texto nos faz convergir para a existência de negociações
entre uma identidade predominante e outras identidades, ou multidentidades
singulares que se fazem ali presentes entre fronteiras e estranhamentos,
incitando plasticidades que nos mostram que desfazer corpos é refazer corpos,
desconstruir identidades é inventar identidades, territorializar é reterritorializar...
Convido
todos e todas a irem com Mário Fellipe a uma noite na boate e, através de seus
olhares, sensibilidades e reflexões, a presenciarem uma boate na cidade de
Fortaleza, “como um território em que emergem dinâmicas e jogos simbólicos que
tem nos movimentos do próprio território, dos corpos e das identidades que ali
se agenciam um de seus meios de produção e manutenção de uma determinada
identidade gay”, como o pesquisador nos revela.
Maria
Dolores de Brito Mota
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