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segunda-feira, 30 de março de 2020

Ana Montenegro – Voz da Luta

"QUEM SUA LUTA CONTINUA, POR PÃO, TERRA E TRABALHO, SENDO UM PAÍS QUE TEM ISSO, TEM LIBERDADE"
“Mas luz, e flor, e povo, e canto responderão “presente”, chegada a primavera mesmo que tardia!”
 ANA MONTENEGRO - ⍟13/04/1915 – 30/03/2006 
Em 30 de março de 2006 calava-se uma voz carregada historicamente de luta e perseguição política, morre por causas naturais Ana Montenegro, aos seus 90 anos.

Militante comunista, viveu no século XX uma história intensa de luta contra a sociedade de classes, a favor da Democracia, do direito das mulheres, do povo e das terras.

Co-fundadora do periódico "Movimento Feminino" participou da União Democrática de Mulheres da Bahia, Comitê Feminino pró Democracia, Liga Feminina da Guanabara e a Federação Brasileira de Mulheres.

Mesmo sendo a primeira mulher exilada, continuou sua trajetória política. Durante o exilio tornou-se membro da comissão da América Latina pela Federação Democrática Internacional de Mulheres, assim como trabalhou em organismos internacionais, como a UNO e a UNESCO.

Com a anistia brasileira em 1979, Ana retorna ao Brasil e se instala em Salvador, integrando a direção do PCB e lutando pelos direitos humanos e da mulher. Mesmo com o fim da antiga União Soviética, Ana não se abalou e manteve seus conceitos. Teve importante participação no Movimento Nacional em Defesa do PCB, e permaneceu no partido até seu falecimento, em 2006.

Defensora árdua dos Direitos Humanos, Ana Montenegro foi também assessora da Ordem dos Advogados e em 2005 foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz.

Já próximo a sua morte ainda se fazia presente na luta, afirmando: "Que sua luta continua, por pão, terra e trabalho, sendo que um país que tem isso, tem liberdade".

Em sua homenagem, reconhecendo a guerreira que Ana foi, militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) fundam o Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro.

ESCRITORA - ADVOGADA - JORNALISTA - POETA - MÃE - FEMINISTA
Ana Montenegro, com a sua presença, marcou as lutas feministas e populares do final do século XX. A partir do seu retorno do exílio, atuou primeiramente, no Fórum de Mulheres de Salvador e, depois, no Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres (1985/1989). Tinha como prática constante se dirigir, sempre às tardes, para a sede da OAB – em Salvador – para ajudar nas tarefas da Comissão de Direitos humanos. Foi homenageada em um congresso nacional da OAB, indicada ao Nobel da Paz e recebeu diversas homenagens e comendas de instituições nacionais.
Uma das suas mais firmes convicções era a tarefa de lutar contra a destruição do PCB, tentativa realizada pelo grupo dirigido pelo deputado Roberto Freire. Travou o bom combate, com força e determinação, lutou em defesa do socialismo e da revolução brasileira. Com seu patrimônio político e intelectual deu uma enorme contribuição ao processo de “reconstrução revolucionária” do PCB.
Ana Montenegro, exilada política, separada e mãe de dois filhos, teve um deles (Miguel) morto durante o exílio. Ela faleceu em 30 de março de 2006, em seu enterro o povo, as mulheres simples, o mundo político e intelectual e seus camaradas encheram o salão para um ato político da mais bela homenagem. Seu caixão ao baixar para a cremação estava coberto com a bandeira vermelha do PCB, marcada com a foice e o martelo da luta dos trabalhadores do campo e da cidade, na terra que escolheu como sua: Salvador.
Publicou diversos livros: Mulheres – participação nas lutas populares, Uma história de lutas, Ser ou não ser feminista e Tempos de Exílio.

Ana Montenegro atuou na área do direito, foi ativa jornalista, desenvolveu intensa pesquisa histórica sobre os movimentos populares e suas lutas de contestação. Sendo também poetisa, lembre-se do poema que fez em Berlim, no outono de 1969, quando do assassinato do seu amigo e camarada, Carlos Marighella:
Em seu enterro não havia velas:

Como acendê-las, sem a luz do dia?
Em seu enterro não havia flores:
Onde colhê-las, nessa manha fria?
Em seu enterro não havia povo:
Como encontrá-lo, nessa rua vazia?
Em seu enterro não havia gestos:
Parada inerte a minha mão jazia.
Em seu enterro não havia vozes:
Sob censura estavam as salmodias.
Mas luz, e flor, e povo, e canto
responderão “presente”, chegada
a primavera mesmo que tardia!



Ana Montenegro, presente!

Fonte: Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro 

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